Santuário do Caraça, em Minas, ganha trilha que combina fé e natureza
Por quase 40 anos, o atrativo mais aguardado na primeira igreja neogótica do Brasil era a "Hora do Lobo", quando turistas aguardavam a chegada de lobos-guará que se alimentavam nas bandejas de carne colocadas nas escadarias.
Sem hora para chegar, os lobos (assim como eventuais cachorros-do-mato e uma anta) continuam aparecendo. Mas desde o último dia 7 de julho, o lobo do Cerrado tem um público diferente: os caminhantes da recém lançada trilha "Nos Passos de Dom Viçoso".
Localizado entre Catas Altas e Santa Bárbara, a 120 quilômetros de Belo Horizonte, o Santuário do Caraça acaba de lançar essa rota temática em homenagem ao bispo português que fundou o Colégio do Caraça, em 1820, e, atualmente, se encontra em processo de beatificação.
Com 88 quilômetros de extensão, esse caminho religioso aos pés da Serra do Caraça e dos contrafortes da Serra do Espinhaço começa no Caraça e segue até Mariana, uma das cidades históricas de Minas Gerais.
Embora a peregrinação não seja novidade por ali, a nova rota conta agora com placas de sinalização, oratórios com mensagens do bispo que dá nome à trilha e marcos de quilometragem a cada mil metros.
"Além de caminhar por lindas paisagens, é uma oportunidade de refazer o trajeto que o religioso tantas vezes percorreu, numa imersão de vivência espiritual marcante e surpreendente", descreve o Padre José Carlos dos Santos, organizador da nova edição da biografia dedicada ao bispo.
Andar com fé: Desde que o Caraça foi destruído por um incêndio em maio de 1968, a fé por ali não costuma falhar.
A caminhada autoguiada pode ser feita no ritmo do peregrino e com pernoites nas pousadas em comunidades e distritos intermediários, como o próprio Santuário do Caraça, além de destinos como Catas Altas, Santa Rita Durão, Camargos e Mariana.
Para quem viaja com tempo, em oito dias de trilha, por exemplo, percorrem-se cerca de 11 quilômetros diários, com variações que vão de 700 a 1279 metros de altitude.
O ponto inicial fica dentro do próprio santuário, uma imensa área de mais de 12 mil hectares que, desde 2005, faz parte das Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, segundo a UNESCO.
Antes de seguir trilha adentro, porém, vale visitar as instalações desse complexo que começou com uma capela de madeira, na primeira metade do século 18. Entre os destaques estão as ruínas do que sobrou do antigo colégio e que, atualmente, abrigam a biblioteca do Caraça.
A caminhada por área de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica passa por atrativos naturais como a Cachoeira Cascatona, no interior da RPPN Santuário do Caraça, e endereços históricos como o Bicame de Pedra, um antigo aqueduto construído por escravos, em 1792, aproximadamente.
Após o km 46, já no distrito de Santa Rita Durão, em Mariana, a trilha passa também pelas ruínas do subdistrito de Bento Rodrigues, assolado pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015.
A viagem termina em Mariana, onde a história de Dom Viçoso pode ser relembrada na cripta da Catedral Basílica de Mariana, e na Cartuxa de Dom Viçoso, uma casa simples que ainda guarda a cama do bispo e marca o final do roteiro.
Foto: Pedro Thomasi / Divulgação (UOL)
Fonte: UOL
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