Busca por natureza na pandemia põe rotas de cicloturismo em alta
A vontade de retomar contato com a natureza na pandemia tem aumentado a demanda por passeios de bicicleta no país. Para atender à procura, operadoras estão criando ou customizando pacotes para famílias, reforçando destinos locais e roteiros para quem já está acostumado com a atividade fora do país.
O serviço inclui, geralmente, lanches, refeições, carro de apoio, guia especializado e hospedagens. Mas, a depender da agência, há também a possibilidade de alugar bicicletas (também elétricas) —e até incluir o pet no roteiro.
O cicloturismo vem crescendo no país há pelo menos cinco anos, mas a pandemia ampliou esse ritmo, diz Luiz Del Vigna, diretor-executivo da Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura).
“Existem possibilidades perto de médias e grandes cidades que são ótimas para um passeio de fim de semana.”
A operadora de cicloturismo Ybytu, até então acostumada a levar viajantes para a Europa, lançou, em setembro, dois roteiros nos arredores da cidade de São Paulo —e viu a procura triplicar no período de setembro a dezembro, em comparação ao ano anterior.
Acostumada a pedalar em São Paulo, mas sem experiência em viagens, a dentista Wania Martins, 51, fez há três semanas o passeio chamado Sua Primeira Viagem de Bicicleta, com os dois filhos, o marido e o cachorro Jack.
O programa de um fim de semana custa a partir de R$ 1.390 por pessoa (inclui duas noites de hospedagem, água, frutas e lanche para o passeio e jantar) e tem um percurso de 82 km em estradas rurais pelas cidades de Indaiatuba, Itupeva e Jundiaí, no interior de São Paulo.
No caminho, Wania e a família observaram cultivos de frutas, como acerola e uva, conheceram a história da região e fizeram piquenique. “Tenho dois adolescentes que estavam confinados por um ano e nunca tinham visto uma plantação de café”, diz.
Os filhos usaram bicicletas elétricas alugadas que eram revezadas com a família. Caso um deles não aguentasse o ritmo, também poderia descansar no carro de apoio —o que aconteceu com Jack, que seguiu parte do trajeto na cestinha e parte no veículo.
Como precaução contra a Covid-19, a Ybytu oferece aos clientes álcool em gel, serve lanches individualizados no piquenique e recomenda uso de máscaras durante o trajeto.
Segundo o médico Adriano Almeida, do Núcleo de Medicina do Exercício e do Esporte do Hospital Sírio-Libanês, máscaras sem válvula são recomendadas para quem pedala em grupo, já que é possível, mesmo ao ar livre, entrar em contato com aerossóis projetados por outros ciclistas.
Outras recomendações são hidratar-se bem, alimentar-se e reaplicar filtro solar a cada duas horas. Também vale usar roupas leves, ventiladas e com fator de proteção solar.
“É preciso prestar atenção se o passeio requer experiência para ser feito. Se for o caso, comece com distâncias curtas em ciclovias e parques e aumente a atividade progressivamente”, diz ele.
Com a procura em alta, Eliane Leite, da agência de turismo de natureza Adventure Club, criou um material para tirar dúvidas sobre viagens de bike. A agência também reativou roteiros pelo Brasil e criou alternativas mais curtas, feitas em um fim de semana.
Lançada em novembro e voltada a famílias, uma delas vai de Bertioga a Juquehy, no litoral norte de São Paulo. Com preços a partir de R$ 1.390 por pessoa, inclui duas noites de hospedagem, água, snacks e piquenique nas pedaladas, jantar, carro de apoio e guia especializado.
Outro grupo que começou a explorar mais os roteiros dentro do Brasil é o de cicloturistas experientes, acostumados a viajar para fora do país, diz Fernando Angeoletto, da Caminhos do Sertão Cicloturismo, de Florianópolis (SC).
No fim do ano, a empresa conduziu um grupo de 15 amigos no roteiro do Vale da Cerveja, na região de Blumenau (com duas noites, a partir de R$ 1.560 por pessoa), que inclui curso de degustação e paradas em cervejarias com retorno feito por van.
Um dos participantes foi Elson José Apecuitá Júnior, 53, militar e administrador, que teve de cancelar uma viagem internacional de cicloturismo por causa da Covid. “Fomos surpreendidos positivamente e, em termos de assistência, a experiência foi muito superior à do exterior”, diz.
A maior procura de viajantes por ambientes naturais desde o fim do ano passado elevou o número de acidentes nessas viagens, diz Luiz Del Vigna, da Abeta. Para manter a segurança, o turista deve se informar sobre o percurso e a estrutura da operadora para resolver casos de acidentes.
Foto: Divulgação
Fonte: Folha de S. Paulo
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