‘Paratodes Paraty’: projeto visa tornar o destino LGBTQIA+friendly
O Paraty Convention & Visitors Bureau, em parceria com a Secretaria Municipal de Turismo de Paraty, no Rio de Janeiro, lançou o movimento ‘Paratodes Paraty’ , cujo objetivo é transformar a cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, em um destino referência para turistas LGBTQIAPN+ nacional e internacionalmente.
Cristiana Fernandes, conhecida como Kitty, designer, professora e proprietária da Átame uma loja inclusiva de Paraty está à frente do projeto ao lado de seu amigo Alexandre Carvalho, sócio da Pousada Casas do Pátio.
O ‘Paratodes Paraty’ surgiu porque os dois são comerciantes de estabelecimentos declaradamente LGBTQIAPN+. Com isso, foram convidados pelo CVB - Convention & Visitors Bureau de Paraty, onde são associados, para liderar uma ação conjunta com a Prefeitura, para levar uma capacitação para o turismo da cidade.
O Presidente da CVB, Sebastian Buffa e o Secretário de Turismo de Paraty, Marcos Paulo, ao frequentar vários eventos de ambas as empresas, perceberam a necessidade de Paraty ter um movimento voltado para este público, já que recebe anualmente milhares de turistas LGBTQIAPN+.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo LGBTQIA+ representa 10% do volume do turismo mundial, responsável por 15% de todo valor movimentado no setor. No Brasil o segmento LGBT é responsável por uma movimentação financeira de R$ 150 bi por ano.
“Muito se avançou no Brasil acerca das conquistas para esse público, como união civil, direito à legalização de nome social etc., e os receptivos devem não só conhecer essas mudanças, mas também lidar com as diferenças. Daí, nos reunimos com voluntários interessados em discutir propostas, somando-se hoje em cerca de 60 pessoas”, explica Kitty.
No processo de condução do projeto, eles se reuniram para elaborar uma captação de recursos para a contratação da capacitação. “Percebemos que seria necessário, primeiramente, uma sensibilização da população, pois não podemos esquecer que muitos desses receptivos também são LGBTQIAPN+. Fizemos um brainstorming coletivo e dele surgiu a ideia de realizar o primeiro Fórum da Diversidade de Paraty, gratuito, com palestrantes já engajados, debatendo com os cidadãos, em conjunto com a esfera pública e privada. Dali, nasceu o Paratodes, um programa que visa várias frentes de discussão, dentre eles a ideia de um fórum de debates”, narra.
O projeto já contou com a realização de um evento em julho, na Casa de Cultura de Paraty, e ficou lotado do começo ao fim. “Percebeu-se que muito há de se avançar no trato dos assuntos relacionados à inclusão, quando foi só um pontapé inicial. Para o movimento, recebemos a arte do artista plástico Aécio Sarti, que representa muito o tom de leveza e representatividade que demos na divulgação do projeto”, completa Kitty, que também cita que foi feito um financiamento coletivo para que houvesse a viabilização do curso de capacitação.
“Há muitas cidades já engajadas e avançadas nas discussões da melhoria da qualidade de vida da população LGBTQIAPN+ , mas sabemos que existe uma intolerância que leva à violência e a uma mortalidade ainda muito elevada, apesar de hoje haver uma maior abertura ao diálogo. Nessas cidades, há programas de inclusão que garantem a legitimação dos direitos do cidadão, além do combate à LGBTfobia. Pretendemos que as discussões invadam organismos públicos e privados para não só incluir a população de Paraty, mas que também os visitantes se sintam acolhidos e protegidos, com qualidade nos serviços e a excelência no atendimento”, pontua a designer.
Além da realização de fóruns de discussão, como realizado em julho, eles pretendem qualificar e fornecer capacitações para melhorar o atendimento, realizar pesquisas para mapeamento do público LGBTQIAPN+ e realizar outras ações conjuntas com a saúde, educação, turismo, cultura, segurança etc.
“Acreditamos que, aos poucos, com respeito e cuidado com o próximo, vamos avançando nas discussões e ampliando as possibilidades de melhoria da qualidade de vida da população em geral, não só a LGBTQIAPN+. Acreditamos que a cidade que inclui, também recebe e acolhe melhor a todes”.
Com o movimento 'Paratodes', já tiveram pequenas conquistas. Após a realização do fórum, conseguiram a ajuda de um juiz para novembro, em que ele ajudará, gratuitamente, as pessoas que desejem realizar a validação de nome social ou o casamento homoafetivo.
“Ficamos surpresos com a adesão no primeiro fórum, no qual compareceram famílias ávidas a sentirem-se acolhidas, pessoas que buscavam respostas à legitimação de seus próprios direitos de cidadãos, profissionais liberais e do serviço público que procuravam não só entender como proceder com a diversidade, mas também, como contribuir para o projeto”.
Além disso, a secretaria de assistência social e dos direitos humanos está realizando uma pesquisa para o mapeamento da população e alguns profissionais da área médica estão se organizando para um protocolo eficaz de atendimento à população LGBTQIAPN+. de Paraty. “Estamos estreitando conversas com vereadores e outros órgãos para uma condução assertiva de ações conjuntas. Há muito o que fazer, mas o primeiro passo foi dado”, completa.
É possível criar espaços seguros e acolhedores para a população LGBT+ dentro do turismo brasileiro. E o projeto visa isso.
“Há dados recentes de um alto poder aquisitivo vindo desse público, disposto a gastar com o turismo. Há discussões na mídia a respeito do uso do denominado ‘pink money’. Porém, esse assunto, apesar de ter grande importância, pois vivemos do turismo, não é o principal foco. É preciso que os indicadores de violência e educação em busca da igualdade melhorem em nosso país. Há, sim, a possibilidade de termos uma nação segura e menos LGBTfóbica ao espelho de outros países mais desenvolvidos, como a Grécia, Alemanha, Suíça e até a Argentina”.
Para Kitty, ao mesmo tempo que o projeto tem enorme importância, ela sonha que não haja a necessidade da presença de uma bandeira do arco-íris na porta dos estabelecimentos para que as pessoas se sintam mais aceitas e seguras. “Há que incluir mais letras à sigla se for preciso e realizar eventos do tema, como as paradas, por exemplo, pois buscamos muito mais do que respeito, mas a legitimidade às leis. Não é possível que em pleno século 21 precisemos ainda dizer que estamos aqui”.
Embora o projeto esteja em processo de consolidação e ainda em uma fase de crescimento, ambos esperam fazer mais. “Para isso acontecer, é preciso de união e interesses mútuos, pois além de uma recepção ao turismo de qualidade, é preciso acolher uma população e tornar essa cidade ainda mais potente no que faz”, finaliza.
Fonte: IG Turismo
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