Ilhabela não é ilha e nem vive só de praia: veja curiosidades sobre o local
Com quase 36 mil habitantes, Ilhabela possui mais de 80% de sua área de Mata Atlântica preservada, maré tranquila e condições geográficas tornam o local ideal para mergulhos, kitesurfing e barco a vela.
O destino paradisíaco no litoral norte de São Paulo, porém, reserva muito mais do que algumas das praias mais bonitas do Brasil e também atrai viajantes que buscam aventuras nas alturas e muitas histórias e lendas.
Ilhabela é um arquipélago: O que pouca gente sabe é que a ilha é um munícipio arquipélago, um dos únicos do Brasil ao lado de Cairu, na Bahia. Além da porção maior de terra, que consiste no centro da Ilha, a cidade é formada pelas ilhas de Búzios, Vitória e Pescadores, todas habitadas por comunidades locais.
E também pelos ilhotes de Cabras, Sumítica, Serraria, Castelhanos, Aves, Galhetas de Fora, Galhetas de Dentro, Lagoa, Figueira, Codó e Prainha, além das lajes Garoupa e Enchovas. Flávia explica que a cidade é considerada um dos melhores destinos de natureza no Brasil.
"São mais de 40 praias que atendem a gregos e troianos. A ilha tem praias voltadas para o continente, de frente para o canal de São Sebastião, com mar mais calmo. Outras de fronte para o mar aberto e mais revolto; praias urbanizadas, com quiosques e apoio, e praias desertas. Praias acessíveis somente por 4X4, somente por trilha ou apenas por barcos, cada uma com seu fascínio e beleza", explica Flávia Grecco, a guia turística da @walkingtourilhabela.
A Ilha é recheada de montanhas: As praias de Ilhabela têm características distintas das cidades balneárias vizinhas em geral por sua formação geológica.
Os 10 maiores picos insulares em altitude do Brasil estão localizados em Ilhabela sendo o pico de São Sebastião o mais alto, com 1375 metros de altitude, além de outros como o Pico do Papagaio, com 1307 metros, ou o Pico do Ramalho, com 1200 metros.
"Esses números podem não ser tão impressionantes quando comparados com os picos mais altos do Brasil, mas são bastante consideráveis, porque a altitude considerada é sempre em relação ao nível do mar", explica Bernardo Oso, guia turístico da @webtur e da @brazilexplorations.
Para níveis de comparação, o Morro do Elefante, em Campos do Jordão e no alto da Serra da Mantiqueira está a 1800 metros, enquanto o Pico do Papagaio está a meros 3 quilômetros da altitude 0 (nível do mar) e atinge uma altitude de 1307 metros.
Flávia ainda lembra que, apesar de não ser o mais alto, o pico mais famoso de Ilhabela é o Baepi — em tupi-guarani: "morro calvo" ou careca, pelado — atribuído pelos índios tupinambás em alusão ao pico desprovido de vegetação.
O Morro se faz presente à paisagem desde a chegada do visitante e é aberto à visitação com acompanhamento de guias. A trilha tem nível de dificuldade médio, e a vista lá de cima é de tirar o fôlego, o que anima muitos visitantes.
"Capital da vela": Graças às excelentes condições de vento e mar do canal de São Sebastião, a Ilha ficou mundialmente conhecida como "A Capital da Vela". A cidade tem sido cenário de muitas competições que atraem velejadores de todo o mundo.
"Ilhabela conta com diversas escolas de vela, clubes e clubes náuticos que oferecem desde aulas de velejo a aluguel de embarcações. Não somente a vela se destaca por aqui, como também esportes como o Kite Surf e o SUP (stand up paddle)", explica Flávia.
Nas praias de frente ao mar aberto (Bonete e Castelhanos, por exemplo), também temos a prática de surf, que revela muitos talentos locais e traz muitos atletas de ponta em busca das ótimas condições para a prática do esporte. Segundo os comentários dos moradores, o nosso grande campeão brasileiro, Gabriel Medina, também realizava seus treinos no local.
Outro esporte que vem crescendo no local, é o Va'a (canoa havaiana / polinésia), que conta com pelo menos 5 bases de treinamento no município.
Além disso, o calendário de eventos de esportes náuticos é bem agitado. Ao longo do ano é possível acompanhar a Semana de Vela, Copa Suzuki, Aloha, KOPA, VIBE (Volta à Ilhabela - canoa havaiana), o que atrai diversos visitantes.
Ilhas disputadas e isoladas: Outro ponto que costuma fugir à maioria dos catálogos turísticos é a importante presença de comunidades caiçaras tradicionais na ilha. Essas populações estão concentradas em duas regiões voltadas ao alto mar e distante das outras praias que se localizam em frente ao canal e a São Sebastião.
Os locais acabam entrando na rota dos turistas da região, mas por outras razões: a Praia de Castelhanos, que abriga uma dessas comunidades, só pode ser acessada por trilha ou com motos e veículos 4x4, sendo necessário atravessar a ilha e o Parque Estadual de Castelhanos.
A praia recebeu esse nome por ter sido o lugar de naufrágio de um cruzeiro espanhol há mais de 100 anos. O navio afundado Príncipe das Astúrias, fazia a linha Barcelona-Buenos Aires e tinha como língua principal de seus passageiros o castelhano, que hoje conhecemos como espanhol.
Já a Praia do Bonete, que abriga outra das comunidades caiçaras locais, fica há 4 horas de caminhada ou 1 hora de barco do centro da ilha.
Os moradores são apelidados na cidade como boneteiros e a comunidade é abastecida por energia solar e por um gerador, que é desligado às 20h.
A região já foi considerada uma das 100 praias mais belas do Brasil, o que atrai uma quantidade considerável de interesse por parte dos turistas.
A dificuldade de acesso, no entanto, é fonte de bastante confusão por parte dos mais desavisados que não leem todas as orientações antes de se hospedar no local e não se preparam para a chegada de barco ou trilha. Como não há conexão de celular e a internet e energia elétrica são escassas, o Bonete é um convite ao descanso, o que pode frustrar quem busca badalação.
Naufrágios e lendas: Atual para de cruzeiros turísticos que circundam a costa brasileira, Ilhabela também foi palco de muitos naufrágios ao longo de sua história.
Além do acidente que afundou o Príncipe das Astúrias, que deixou 443 mortos e 143 sobreviventes, foram contabilizados outros 22 naufrágios. Como o do brasileiro Aymoré, que retornava do Uruguai em direção à Recife e afundou em 1920. Desta vez todos puderam ser resgatados, mas a gravidade do acidente levou o navio ao fundo do mar. Para mergulhadores mais experientes é possível realizar um tour em seus destroços.
O fluxo intenso de embarcações, a grande quantidade de acidentes nos mares de Ilhabela e o extenso período em que ali funcionaram Engenhos de produção de açúcar acompanharam o surgimento de lendas dos mais diversos tipos.
Os saberes populares da região contam sobre tesouros perdidos no mar ou enterrados em meio à extensa mata que cobre a região, algo que também atrai diversos curiosos e mesmo caça-tesouros. Até o momento, no entanto, não existe nenhuma comprovação de que tenham encontrado nada muito suntuoso.
"Minha ligação com o mar me faz também uma apaixonada pelas histórias de piratas e corsários que cruzaram nosso litoral. Thomas Cavendish está entre meus prediletos, ele foi o 3º homem na história a dar a volta ao mundo e esteve em Ilhabela por alguns dias em 1591. Pouco antes de seu ataque bem-sucedido à Vila de Santos na noite de Natal do mesmo ano. Existe uma lenda nos conta que o corsário inglês escondeu um tesouro na região que conhecemos hoje como Saco do Sombrio em Ilhabela", conta Flávia.
Diversão além das praias: Bernardo recomenda trilhas pelo parque Estadual de Ilhabela, que apresentam relativa segurança e estrutura. Ele também cita a Praia do Poço, que é uma pequena praia localizada na parte norte da Ilha, acessada por uma trilha exigente de 4 horas a partir da Praia do Jabaquara ou por barco.
"O principal diferencial desta praia é seu poço, que na verdade é o delta de um rio que verte montanha abaixo. O trecho convida o montanhista a subir por suas margens até a altitude de 400 metros, onde encontra-se a nascente. Ao longo desse caminho, é possível observar o serpentear do rio por entre as rochas em um canto da Ilha abandonado há mais de 300 anos. É realmente uma atração fora do catalogo", conta Bernardo.
Flávia aposta em um roteiro mais simples e cheio de história: a Vila, como é chamado o Centro Histórico de Ilhabela.
"Foi o cenário onde surgiu o primeiro povoado na Ilha, e onde se ergueu a Igreja Matriz, a Cadeia, o Fórum e o Pelourinho. Benfeitorias responsáveis por elevar a Ilha da condição de povoado à Vila no século 19 e emancipar-se da Vila de São Sebastião", explica Flávia.
Na Vila também se encontram os canhões do século 16, traços da arquitetura colonial ainda muito preservada (paredes e edifícios construídos de pedra, areia e óleo de baleia); a Biblioteca, o Museu Waldemar Belizário e a sede do Parque Estadual, que ocupa o antigo prédio da Cadeia/Fórum.
Ali são exibidas exposições temáticas nas antigas celas da cadeia, ainda com traços originais, e todo um acervo sobre o Parque Estadual de Ilhabela.
Fonte: UOL
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