Como fazer uma viagem na pandemia com responsabilidade
O turista responsável se preocupa com as consequências de sua atividade no local que está visitando e, no contexto do coronavírus, isso inclui o risco de disseminação que ela pode oferecer.
“Ao seguir essa lógica, devemos transferir o cuidado que temos em nossa rotina para o local que vamos conhecer”, diz Mariana Aldrigui, professora de lazer e turismo da USP.
De acordo com o conceito de turismo responsável, cada parte da cadeia —viajantes, meios de hospedagem, companhias aéreas e receptivos— assume uma parcela de compromisso para tornar um destino melhor para se viver e, consequentemente, para se visitar, afirma Gustavo Pinto, diretor da Inverted America, consultoria em planejamento turístico responsável.
“Muitas pessoas associam esse termo a questões ambientais e ecoturismo. Mas qualquer atividade turística pode ser mais responsável. Isso transforma o turismo em estratégia de desenvolvimento sustentável para aquele local.” Segundo ele, o termo e o debate acerca do tema surgiram por volta dos anos 2000.
Transpondo essa ideia para o momento de pandemia, o turista deve avaliar qual nível de responsabilidade que empresas, prestadores de serviço e até o poder público estão tomando para garantir a segurança de um destino, afirma o especialista.
“O viajante precisa analisar o lugar que pretende visitar e procurar compreender medidas tomadas não só para recebê-lo, mas também entender qual relação de cuidado existe com aquela comunidade”, afirma Gustavo Pinto, também à frente de uma qualificação sobre turismo responsável do Instituto Vivejar.
Mariana Aldrigui, da USP, lembra que existem profissionais que se especializaram em produtos e serviços adaptados à pandemia, que garantem processos mais seguros.
Além de avaliar o efeito de suas escolhas, o turista também precisa levar em conta se a decisão de viajar é compatível com a situação da pandemia ou se é responsável adiar sua viagem, diz Gustavo Pinto.
No momento mais crítico da pandemia e com o começo da fase emergencial em São Paulo, o momento não é nem de planejar viagens, afirma Rodrigo Ramos, coordenador da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo.
“Com as novas variantes, estamos apertando as restrições. Não é hora de fazer uma viagem a turismo, para conhecer uma região. O que se pode fazer é pesquisar, pedir informações sobre protocolos, conhecer as condições de estabelecimentos, mas sem planos concretos”, diz Ramos.
Neste período mais grave do coronavírus, viagens não são recomendadas entre diferentes regiões ou estados do país, diz Moacyr Silva Junior, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Chegamos ao momento de intensificação da pandemia, então temos que intensificar o cuidado. Nosso comportamento precisa estar de acordo com a curva epidêmica do país”, diz ele.
Para quem está no estado de São Paulo, conhecer o que é permitido em cada fase do plano para conter o coronavírus (leia mais abaixo) também é de extrema importância na hora de pensar sobre viajar, diz Rodrigo Ramos. O mesmo deve ser feito por quem mora em outras regiões, em sintonia com o sistema local.
“Como não há uma mesma orientação nacional, muitas pessoas começaram a afrouxar as regras. Vimos muitos casos de pessoas que foram viajar no fim do ano e, na volta, transmitiram o coronavírus para familiares. Ou, ao contrário, contaminaram a população de um determinado local”, diz Ramos.
Quando viagens voltarem a ser possíveis, é importante acompanhar as condições do sistema de saúde da região que se pretende visitar e, antes de partir, seguir cuidados necessários na rotina para não se tornar um agente transmissor para aquela comunidade, diz Moacyr Silva Junior, do hospital Albert Einstein. Além disso, mesmo que o turista se sinta em um ambiente seguro, máscaras continuam sendo recomendadas.
De acordo com Rodrigo Ramos, da secretaria de Turismo paulista, o ideal é planejar viagens a uma localidade que esteja em uma classificação equivalente à de onde se está partindo —quando a situação da pandemia permitir. “Como exemplo, se estou em uma região de fase laranja, não devo me locomover para outra que progrediu para amarela”, diz.
No caso das viagens de isolamento, com aluguel de casas próximas à natureza, é aconselhado manter contato com o mesmo núcleo que já é parte da rotina de isolamento e evitar frequentar áreas com maior circulação de pessoas, como a praça de uma cidade. No estado de São Paulo, essas viagens são recomendadas a partir da fase laranja.
A população que já recebeu vacina também deve continuar seguindo as medidas de segurança, inclusive em viagens, diz o médico Moacyr Silva Junior, do Einstein. “A responsabilidade está também com esse grupo. Mesmo vacinada, a pessoa ainda pode carregar o vírus.”
Fonte: Folha de S. Paulo
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