Vale a pena: testamos o passeio gratuito de bike pelo Centro de São Paulo
O centro da maior cidade do continente segue no ritmo que a gente já conhece. Pedestres caminham apressados sobre calçadas lotadas, carros entopem ruas estreitas e sua arquitetura eclética continua imponente sem que ninguém se dê conta.
Mas sobre duas rodas e acompanhado de um guia, dá para ver a hiperativa São Paulo sob outra perspectiva. Para celebrar o aniversário de 466 anos dessa megalópole com mais de 12 milhões de habitantes, o UOL Viagem embarcou no Bike Tour SP, um passeio ciclístico por 21 pontos históricos do Centro Novo, acompanhado de guia e com início na Biblioteca Mário de Andrade, na Rua da Consolação.
É como encarar a cidade com outro olhar. "Pedalar não é só lazer, mas também transporte urbano e prática de atividade física. Agora eu vivencio mais a cidade", descreve o coordenador Wesley Alves, de 23 anos, ciclista ativo desde que começou a trabalhar no projeto.
A cada parada, um áudio é acionado com informações históricas e curiosidades, seguido sempre de uma dica pessoal do próprio guia, como atrativos com entradas gratuitas em determinados dias da semana. Enquanto isso, a cidade segue frenética e as lembranças vão longe.
Quem circulou no Centro paulistano nos anos 80, abre o álbum de imagens da memória em locais como o edifício sisudo do antigo Mappin, na Praça Ramos de Azevedo, e o projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha para o atual SESC 24 de Maio, no mesmo prédio que um dia abrigou a finada loja de departamentos Mesbla. Eis a cidade que está ali, todos os dias, mas nem todo mundo vê.
A psicóloga paraense Renata Braga, de 32 anos, mora em São Paulo há oito anos e participou da experiência pela primeira vez, no último final de semana. "Trabalho longe do centro e quase não tenho acesso ao circuito cultural da região. Vivemos para o trabalho", descreve Renata com um sorriso no rosto de quem parecia desembarcar na cidade pela primeira vez.
O tempo (e o ciclista) se detém também em endereços como a esquina das avenidas São Luís e Ipiranga, onde o guia conta histórias dos edifícios Copan, Terraço Itália e o antigo colégio Caetano de Campos.
E a gente nem sente os 6,5 quilômetros de extensão do roteiro, por conta das vias planas dessa região que ficou conhecida como Centro Novo, em referência à expansão e modernização do setor, a partir do século 19.
Delimitado pelo Viaduto do Chá, o novo Centro via nascer, nos anos seguintes, futuros ícones da cidade como a Praça da República (1889), o Teatro Municipal (1911) e o Copan (projeto assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em 1954).
É seguro? Um dos atrativos que garantem fila de espera no Bike Tour SP nos finais de semana é a segurança de pedalar acompanhado. "Muitas pessoas ainda têm receio de visitar o Centro a pé. Estar de bicicleta e em grupo é muito mais estimulante", explica Wesley Alves.
No entanto, não se trata de passeio maquiado para turista ver. "A gente não oculta nada e o roteiro passa bem perto da Cracolândia [setor central conhecido pelo tráfico e alto consumo de drogas]", diz Alves. "Mas também vemos as coisas boas que o Centro tem para oferecer". Desde sua fundação, em 2013, o projeto já recebeu quase 54 mil participantes e arrecadou mais de 101 mil quilos de alimentos, uma das condições para participar dos roteiros.
Turismo inclusivo: Não precisa ser nenhum ciclista profissional para participar desses tours guiados, popular entre famílias e grupos de amigos. Sob o tripé bike-cultura-solidariedade, o projeto é voltado também para quem não sabe pedalar e conta com opções em alguns dos roteiros como cadeirinhas para crianças, o Triciclo Família para dois adultos e uma criança, e o Bike Kids, em que os pequenos viajam a bordo de uma carrocinha puxada por uma bicicleta.
Um dos sucessos do programa é o Trenzinho, uma sequência de bikes engatadas, adaptadas para idosos, cegos e pessoas com mobilidade reduzida. "Essa daí é boa porque não cansa", soltou uma transeunte na esquina da Duque de Caxias com Barão da Limeira, enquanto passava o grupo que a reportagem do UOL Viagem acompanhou no último sábado. Devido às variações de terreno, a Vila Madalena é o único bairro do projeto que conta com bicicletas elétricas para os participantes.
Vai lá: O Bike Tour SP oferece cinco roteiros temáticos que acontecem aos sábados e domingos, no Centro, avenida Paulista, Parque Ibirapuera e Vila Madalena.
Embora a atividade seja gratuita, é solicitada a doação de 2 quilos de alimentos não perecíveis, doados para instituições assistenciais parceiras do projeto. Bicicleta e equipamento de segurança são oferecidos aos participantes.
As saídas são concorridas e a inscrição deve ser feita com antecedência. Mesmo assim, segundo informou um dos idealizadores do projeto, não é raro conseguir vagas por conta das desistências de última hora.
Saiba mais: http://www.biketoursp.com.br
Foto: Eduardo Vessoni (Uol)
Fonte: Uol
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