Sem horário de verão, dia no Rio começa a clarear antes das 4h
Quem acorda cedo já deve ter percebido: o dia no Rio está começando a clarear antes das 4h, algo que não acontecia há quase 35 anos. Mas não se trata de nenhum fenômeno atípico. É uma consequência do cancelamento do horário de verão.
O regime especial foi revogado em abril pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), pondo fim a uma sequência que vinha desde novembro de 1985.
Como o Rio de Janeiro – assim como as regiões Sudeste e Sul e parte do Centro-Oeste – não vai ajustar o relógio neste verão, a claridade, naturalmente maior nesta época do ano, vai ser percebida cada vez mais cedo. Vai ter dia em dezembro começando a despontar às 3h33.
A astronomia por trás do horário de verão: O G1 foi até o Planetário da Gávea, na Zona Sul do Rio, para entender os conceitos por trás do horário de verão.
O primeiro tem a ver com o horizonte. Tecnicamente, o dia começa quando, do ponto de vista de quem observa, o sol cruza a linha do horizonte e passa a ser visto – ou “nasce”.
“O sol é muito brilhante. Antes de ele ficar visível, a claridade dele se espalha pela atmosfera”, ressalta Alexandre Cherman, diretor de Astronomia do Planetário do Rio. “A mesma coisa acontece depois do anoitecer”, emenda.
Na astronomia, esses “fiapos de luz” ocorrem no crepúsculo, ou a transição do dia para a noite - e vice-versa.
Um outro conceito é a insolação – não o mal decorrente da exposição excessiva ao sol, mas seu “xará astronômico”. “É a quantidade de luz ao longo do ano”, ensina Cherman.
“No inverno, as noites são mais longas, e os dias, mais curtos; no verão, isso se inverte”, sintetiza.
“Isso acontece porque o eixo da Terra é inclinado, e ao longo do ano o planeta gira ao redor do Sol. Então, dependendo da época do ano, você vai receber mais ou menos luz solar”, detalha o astrônomo.
A insolação está diretamente ligada à duração do dia, incluindo os crepúsculos. “Aqui no Rio essa diferença nem é tanta assim”, pondera Cherman.
Mas há diferença. No inverno, a noite chega a durar dez horas e meia; no solstício de verão, o breu total mal passa sete horas e meia.
E como esses conceitos se aplicam ao horário de verão? “É uma mudança arbitrária do seu fuso horário”, define Cherman. “Você pega o intervalo de tempo de claridade e move uma hora para frente”, diz.
Por que o governo aboliu o horário de verão: O objetivo do horário de verão era aproveitar os dias mais longos para obter um melhor aproveitamento da iluminação natural, principalmente no horário entre 18h e 21h. Nesse horário, as lâmpadas dos espaços públicos são ligadas, boa parte da população chega em casa e parte do comércio, escritórios e indústria continua ativa.
Mas, nos últimos anos, mudou o padrão de consumo do país. Lâmpadas incandescentes foram substituídas por lâmpadas mais eficientes, e o horário de pico de energia se deslocou do início da noite para o meio da tarde, por volta das 15h, devido ao aumento expressivo do uso de ar-condicionado.
Estudo do Ministério de Minas e Energia divulgado no ano passado já apontava para a perda de efetividade do horário de verão. Segundo a nota técnica, a adoção de outros instrumentos regulatórios, como a tarifa branca e preço por horário, poderia produzir resultados mais relevantes para o setor elétrico.
“Nas últimas edições a economia não foi muito significativa”, acrescentou Cherman.
Ao assinar o decreto, Bolsonaro admitiu que sempre reclamou do horário de verão.
“As conclusões foram coincidentes: questão de economia, o horário de pico era mais pra 15h, então não tinha mais a razão de ser, não economizava mais energia; e na área de saúde, mesmo sendo uma hora apenas, mexia com o relógio biológico das pessoas”, disse.
Foto: Marcos Serra Lima (G1)
Com informações: G1
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