Mulheres que viajam sozinhas: tudo o que você precisa saber
Compromissos de última hora impediram o noivo de Fernanda Nossa, hoje com 32 anos, de embarcar com ela para Porto de Galinhas, apesar de o pacote estar pago. Cecília Lisboa, de 65 anos, estava no quarto ano da faculdade de medicina e não achou quem topasse acompanhá-la no mês de férias entre comunidades indígenas no Xingu – isso lá nos anos 70. Marina Bueno, de 33, esbarrou na promoção dos sonhos de passagem aérea para a Austrália, e Christiane Alves, de 40, quis porque quis contrariar quem dizia que ela não deveria ir sozinha para a Turquia. Assim, cada uma a seu modo, todas estas mulheres decidiram viajar sozinhas pela primeira vez. E não pararam mais.
Embora faltem estudos globais, alguns dados mostram que mulheres viajando desacompanhadas já não são uma exceção. Em levantamento feito em 2015 com 9.852 internautas, uma comunidade de viajantes constatou que 25% das brasileiras pesquisadas já tinham viajado sozinhas e planejavam repetir a experiência; entre as estrangeiras, 81% das australianas e britânicas deram as mesmas respostas.
Entre os brasileiros que fazem intercâmbio no exterior, 63% dos clientes da agência EF são mulheres; na CI, elas representam 60% na faixa etária até 30 anos. “O aumento do protagonismo das mulheres é notável no turismo, e é um reflexo do que vem acontecendo na sociedade”, avalia Fernando Nogata Kanni, coordenador do curso de pós-graduação em Inovação e Empreendedorismo em Negócios Turísticos Sustentáveis do Senac EAD.
O professor destaca que o Brasil ainda está aprendendo a prestar um bom atendimento às mulheres que viajam. “Elas esbarram nas mesmas dificuldades que encontram no dia a dia na interação com os homens”, diz.
Estratégias. Começar fazendo viagens curtas para destinos próximos é uma boa forma de treinar. Paulistanas podem tentar Santos, Guarujá, Ubatuba, Campos do Jordão, que são cidades cheias de atrações turisticamente bem estruturadas.
Cair na estrada sozinha deixa de ser tabu e se torna um prazer depois de uma primeira experiência bem sucedida. “Conto meus planos para a família e amigos e se alguém quiser me acompanhar, é bem-vindo. Se não, faço as malas e parto rumo ao autoconhecimento”, diz Fernanda Nossa.
Cada viajante encontra sua fórmula para ter uma viagem solo tranquila. “Ligo na pousada e pergunto se posso caminhar na praia à noite levando apenas uma lanterna”, diz Cecília Lisboa. “Se a resposta for sim, eu vou.” São Miguel do Gostoso (RN) e Ilha do Cardoso (SP) são lugares que preenchem esta exigência da viajante.
Christiane Alves conta que pede dicas na recepção dos hotéis – fez isso, por exemplo, em Istambul e na África do Sul para saber por onde poderia andar sozinha e que horas deveria voltar.
É verdade que a segurança é uma questão, como mostram as constantes notícias de violência contra as turistas no mundo todo. A viajante Marina Bueno, no entanto, prefere relativizar a questão e não se deixar intimidar. Ela diz que faz pesquisa prévia, mas sem se apavorar. “Essa coisa de segurança é muito relativa”, analisa. “Por isso, procuro ouvir vários relatos de pessoas diferentes que já estiveram no lugar.”
O fato é que as mulheres que viajam não querem mais ser vistas apenas como vítimas em potencial. Protestam em alto e bom som e, cada vez mais, ganham a estrada, protegidas por cuidados básicos (leia nesta página) e cheias de vontade de exercer seu direito de desbravar o mundo.
Nossa equipe (feminina) selecionou dicas práticas, testadas e aprovadas, para se aventurar sozinha pelo mundo. Ainda não se sente pronta, mas não tem companhia para as sonhadas férias? Nós ajudamos a encontrar outras viajantes solo. Ou a cair na estrada com os filhos pequenos – e sem o pai deles por perto. Afinal, as famílias são diversas.
Só não vale deixar de ir aonde quiser apenas por ser mulher.
Sem ostentação: Malas caras despertam curiosidade sobre o que há dentro; deixe-as em casa. Use bolsas simples, sem logotipo de grife. Leve poucas joias, deixe-as no cofre e não as use para bater pernas.
Onde está Wally? Misture-se à multidão. Vista roupas simples e de acordo com o hábito local – vale usar lenço em países islâmicos mais conservadores. Você não vai conseguir parecer uma moradora, mas, pela dúvida, vai desencorajar os mal-intencionados.
Só o essencial: Carregue dinheiro para o dia, cartão de crédito e o passaporte – ele encurta a burocracia para sair do país em uma emergência. Para não perdê-lo, use uma doleira junto do corpo. Tenha no e-mail cópias das páginas de identificação e vistos.
Mistério no ar: Novos amigos e amores de verão são ótimos, mas não precisam saber o nome do seu hotel. Encontros marcados em aplicativos devem ocorrer à luz do dia, em lugar movimentado.
Saiba pedir ajuda: Anote em papel – não no celular – os telefones de emergência da embaixada ou consulado do Brasil mais próximos dos seus destinos. Faça o mesmo com o atendimento do cartão de crédito.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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