Precisamos de Férias: Nossa Saúde Depende Disso
As férias deveriam ser agradáveis. Um momento para relaxar, dar uma pausa na rotina, dormir, pegar um sol e se divertir com a família e amigos. Apesar disso, quando a maioria de nós pensa em fazer isso, uma enorme quantidade de estresse vem à nossa mente, e não estamos falando apenas de fazer as malas e pegar a estrada.
Antes de mais nada, você ficará desatualizado sobre os projetos do seu escritório. Inevitavelmente, alguém precisará trabalhar no seu lugar enquanto isso. E no final das contas, quanto descanso você realmente terá? Seu celular continuará ligado de qualquer maneira; pode ocorrer alguma emergência de trabalho e você precisará checar seus e-mails constantemente. Pensando bem, talvez seja melhor adiar as férias para quando as coisas estiverem mais tranquilas no trabalho.
É sempre assim. Os americanos são mártires do trabalho, segundo o novo relatório do Project: Time Off, um esforço que visa mudar a visão do país sobre as férias. Todo ano, os americanos deixam de usar 224 bilhões de dólares reservados para férias.
Mais de um terço dos casais (36 por cento) reclama do tempo gasto com o trabalho e com as obrigações de família. Em famílias cujos integrantes têm direito a férias remuneradas, aproximadamente sete em cada dez pessoas dizem que um problema de trabalho já resultou na perda de um evento importante dos filhos, no cancelamento de férias em família ou mesmo na ausência durante o funeral de um ente querido. Quatro em cada dez voltam das férias muito antes da hora, todo ano.
Mas tirar férias está longe de ser um tempo perdido. Na verdade, é um tempo valioso que não estamos utilizando.
Por que estamos deixando de tirar férias? Segundo Ken Yeager, PhD, um psicólogo da Ohio State University Wexner Medical Center, diretor do Stress, Trauma and Resilience (STAR) Program, estamos sofrendo com um mal chamado “presencialismo”.
“É o oposto do absentismo”, ele conta ao Yahoo Health. “E é uma coisa muito americana. Quando você viaja para a Europa, tem uma sensação de que as coisas são mais tranquilas por lá. Hoje, quando tiramos férias, ficamos cheios de remorso por outra pessoa precisar assumir nossa carga de trabalho e tememos que tudo desmorone enquanto estivermos fora”.
Hoje, mais do que nunca, nosso trabalho nos define. Imagine um jantar, no qual você precisa se apresentar a vários desconhecidos. O que você diria? De acordo com a psicóloga Karla Ivankovich, PhD, professora adjunta da University of Illinois, Springfield, costumávamos nos definir por nossos interesses, famílias e relacionamentos. Mas, nos dias de hoje, “a maioria das pessoas se apresenta falando sobre seu trabalho, em vez de dizerem quem são”, diz ela. Elas dizem algo como “eu sou João, diretor da empresa X”, em vez de “eu sou João, pai de família que trabalha muitas horas por dia e ainda precisa estar em casa na hora do jantar, mas só depois de levar meu filho ao futebol. Depois disso, só me resta cair na cama e começar tudo de novo no outro dia”.
Essa questão do trabalho como principal fonte de identidade, é o motivo pelo qual o desemprego atinge tão duramente as pessoas, diz Art Markman, PhD, professor do departamento de psicologia da University of Texas, em Austin.
“Nossa vida profissional tem um papel central na forma como nos vemos”, ele conta ao Yahoo Health. “É por isso que pessoas desempregadas muitas vezes sofrem de depressão e se sentem perdidas. Isso também afeta os pais que cuidam da casa e dos filhos e se sentem como se não tivessem um local de trabalho para ajudá-los a definir que são”.
Mais do que nunca, nossas mentes andam consumidas pelas exigências do trabalho. De algumas décadas para cá, a cultura que envolve o local de trabalho mudou. Antiguidade, lealdade e longevidade, foram substituídas pela juventude, produtividade e economia.
Você se define pelo que faz? Essa mudança abriu as portas para a ansiedade. "Durante momentos econômicos difíceis, os empregadores esperam que os funcionários se desdobrem em suas funções”, diz Ivankovich. “Em muitas situações, isso significava assumir deveres adicionais ou até mesmo absorver a função de outras pessoas. As pessoas têm se sobrecarregado por medo de perderem seus empregos”.
Com as famílias tão geograficamente separadas como estão, as férias começaram a parecer mais um fardo do que uma chance de descansar, diz Markman. “Os americanos perderam a tradição de tirar férias em família”, ele explica. “Em vez disso, as pessoas tiram férias para visitar os familiares, mas isso raramente é uma viagem relaxante”.
Então, estamos deixando de viajar. Em alguns casos, nem saímos mais do escritório.
Segundo Yeager, estamos ficando condicionados a adiar nossas férias. Isso tem levado as pessoas a trabalharem por anos a fio, empurrando suas carreiras para frente com nada mais do que pura força de vontade. “Pense em um médico ou um advogado, por exemplo. Quantos anos eles investem em sua formação?” Yeager continua. “O estudante de medicina adia qualquer chance de se divertir para tirar boas notas, entrar em uma boa faculdade, fazer sua residência e finalmente começar a trabalhar”.
“A autoestima da pessoa acaba ligada à sua capacidade de deixar de se divertir”, diz Yeager. “Então, o trabalho desta pessoa toma uma posição central na sua vida”, diz ele, explicando a mentalidade por trás da situação. Outro aspecto preocupante é que estamos adiando nossas férias por nos acharmos importantes demais no ambiente de trabalho, para abandoná-lo. Sentimos que somos as engrenagens principais de nossas empresas.
“Nós cultivamos este sentimento de sermos indispensáveis mesmo que não sejamos”, diz Yeager.
Yeager compara o estresse crônico no trabalho com correr em uma esteira. A excelência no trabalho é uma coisa muito boa. Se exercitar também. “Mas ninguém corre em uma esteira até seu coração explodir, certo? Nós sempre sabemos quando parar de correr”.
Somos uma nação cheia de corações prestes a explodir.
O preço que se paga pelo estresse e pela falta de sono: Férias de verdade, não têm a ver apenas com diversão. Também é uma chance de reduzir o estresse e ter mais tempo para dormir. Além disso, é um bom momento para deixar seu cérebro fazer uma pausa. Na verdade, este é um dos motivos pelos quais é importante relaxar, saber quando parar de checar os e-mails e ir dormir.
“Quando falamos de estresse, precisamos ponderar sobre ele”, diz Alan Rozanski, MD, cardiologista e diretor do Wellness and Prevention Programs do Mount Sinai Heart. “Há tipos de estresse que são bons para nós e outros que são ruins. Fazer uma graduação, fazer as tarefas de casa, querer mudar o mundo — tudo isso é o lado bom do estresse, que costumamos chamar de ‘desafio’”.
Rozanski publicou uma pesquisa ano passado, no American College of Cardiology, concluindo que pouco estresse é tão ruim quanto muito estresse. "O meio termo é o ideal”, explica ele.
“O estresse crônico é ruim para nós”, diz Rozanski. “Ele perdura por longos períodos de tempo e traz uma sensação esmagadora de que não podemos lidar com ele. Isso leva à ansiedade, depressão e efeitos que são bem conhecidos hoje em dia”.
Rozanski explica que inundar nosso sistema com cortisol, o hormônio do estresse, leva a uma série de problemas. “Quando os hormônios do estresse se acumulam em níveis elevados, dá para ver sua ação no corpo humano”, explica ele. “A hipertensão arterial, resistência à insulina, o aumento do risco de diabetes, maior susceptibilidade a doenças cardíacas, são alguns dos efeitos conhecidos”.
Os trabalhadores americanos não estão apenas estressados. Muitos também estão passando por severas privações de sono. Estatísticas do Gallup revelam que 40% dos adultos do país dormem menos de seis horas por noite. A média é a mais baixa desde 1942.
E perder o sono pode ser profundamente problemático ao longo do tempo, diz Yeager. Em 2013, pesquisas recentes financiadas pelo National Institutes of Health mostraram que o cérebro inunda a si mesmo com o líquido cefalorraquidiano durante o sono, livrando-se rapidamente das toxinas. Isso é muito importante, mas todo o processo requer muito mais energia quando o corpo está desperto e funcionando. Os cientistas já haviam observado este efeito de limpeza cerebral em ratos e babuínos, mas ainda não em seres humanos. No entanto, a pesquisa forneceu um dos primeiros vislumbres sobre os motivos pelos quais dormir é uma função essencial para os seres vivos: descansar e livrar o corpo de resíduos e toxinas.
Por exemplo, uma das toxinas removidas pelo cérebro durante o sono é a amiloide beta, que está associada à doença de Alzheimer. Distúrbios de memória e Alzheimer são frequentemente relacionados a distúrbios do sono. O acúmulo tóxico também pode explicar por que temos problemas cognitivos após uma noite particularmente insone, ou como a falta de sono pode acabar matando uma pessoa.
Precisamos de descanso para garantir a saúde dos nossos corpos, para pensar com clareza e trabalhar com nosso melhor desempenho possível. Somos muito mais produtivos quando estamos descansados, como várias pesquisas recentes têm mostrado.
Há muitos exemplos. Cientistas de Stanford colocaram jogadores de basquete em uma rotina de 10 horas de sono por noite. Houve um aumento considerável na porcentagem de acerto de lances livres e arremessos de três pontos. Algumas pesquisas do Journal of Sleep trabalharam com controladores de voo, estabelecendo horários de descanso de 40 minutos, com uma média de 19 minutos de sono. O tempo de reação deles aumentou e todos os profissionais ficaram mais atentos no trabalho.
Como podemos romper este ciclo? Sua namorada está louca para dar uma escapada para a praia? Seu marido quer fazer um passeio pela natureza e andar de caiaque? É relativamente fácil programar férias e se forçar a não desistir delas. O primeiro passo é marcar uma data e se ater a ela.
Mas como? Se possível, é melhor pensar grande, diz Ivankovich. É preciso mais do que dois bons dias de descanso para recarregar suas baterias. “Você precisa romper o ciclo do estresse”, diz ela. “A mente leva dois dias para começar a desacelerar e relaxar. É por isso que o melhor é tirar cerca de sete dias de folga, em vez de apenas um final de semana prolongado; os benefícios de uma ausência prolongada são muito maiores e se mantêm por muito mais tempo”.
Embora tirar uma folga desse tamanho seja completamente possível, não é tão fácil descansar durante este tempo. “Você precisa descobrir o que relaxa a sua mente e recarrega suas baterias”, diz Yeager. “Algumas pessoas conseguem aliviar completamente o estresse depois de uma caminhada na praia. Onde você se sente mais relaxado? Em meio à natureza? Então é melhor acampar. O que você gosta de fazer em seu tempo livre? Ler? Então pode ser uma boa levar alguns bons livros para a beira da piscina e perder a noção do tempo”.
Não consegue distrair sua mente? Algumas pessoas precisam treinar para isso, diz Yeager. Pense no seu tempo livre como um “treino para as férias”. Você pode começar viajando durante finais de semana prolongados e aumentar seu tempo de descanso até conseguir ficar fora por uma semana.
Outra boa ideia é deixar seu telefone em casa e passar apenas meia hora verificando seus e-mails de manhã, no almoço e à noite. Passar uma hora da sua noite lendo seus e-mails de trabalho também funciona. Mas o melhor mesmo é se libertar completamente da Internet.
Yeager descreve uma viagem ao norte da Europa, onde o acesso à Internet era bem limitado. “Só dava para ler meus e-mails em um café”, ele diz. “Mas levar meia hora para responder um e-mail de trabalho não foi de todo ruim. Você já tomou café europeu? Meus momentos online foram bem mais tranquilos”.
Outro ponto importante sobre tirar férias e relaxar é que você pode voltar para o trabalho a todo vapor novamente. “O aspecto mais importante das férias é que elas criam boas lembranças”, diz Menezes. “Isso aumenta a sensação geral de bem-estar. As férias são a melhor oportunidade para casais e famílias se reconectarem e fugirem do ritmo agitado da vida diária”.
Então vá para a Disneylândia, para uma praia, visite uma região vinícola, acampe ou faça qualquer outra coisa que vier à cabeça. Você não apenas merece; você precisa.
Imagens: Getty Images / Yahoo!
Fonte: Yahoo!
0 comentários