Britânico cria tour por melhores grafites de São Paulo
Como Caetano Veloso diz na música Sampa, "da dura poesia concreta de tuas esquinas", a beleza de São Paulo não é tão óbvia quanto a de outras cidades. Com as palavras de Caetano na cabeça, resolvi ir atrás dos grafites de São Paulo e acabei preparando o roteiro abaixo. Ao meu ver, ele revela a essência da vida paulistana e a surpreendente beleza estampada em locais inusitados: de esgotos até os mais altos andares de prédios. A viagem pelos grafites é também uma forma de se conhecer a cidade por meio da crítica social exposta na arte urbana.
Fotografei meus preferidos e será fantástico receber dicas dos leitores do 'Para Inglês Ver' com registro de arte urbana imperdível em São Paulo e em todo o Brasil.
Vila Madalena & Pinheiros: Em meio à boemia da Vila Madalena, muros e lojas ganham o colorido do grafite. Quem passa pelas ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque fica impressionado com a galeria a céu aberto de grafites pintados com tinta spray, feitos principalmente por artistas brasileiros, conhecida como Beco do Batman.
A história do Beco começou na década de oitenta, quando surgiu na parede da rua Harmonia um desenho do homem-morcego dos quadrinhos. A novidade fez com que estudantes de artes plásticas começassem a criar desenhos de influência cubista e psicodélica nas paredes do Beco.
De lá para cá, cada centímetro de muro do Beco foi sendo coberto por intervenções de tinta aerossol brilhantes e estilizadas feitas por grafiteiros reconhecidos internacionalmente como Speto.
Embora seja uma galeria informal, o espaço é disputado constantemente por artistas que buscam expor seus trabalhos, e por isso foram criadas algumas regras essenciais para garantia da ordem: quem pintou no muro permanece "proprietário" da parte específica que usou. Um grafiteiro deve obter a autorização do "dono" para usar o espaço já coberto.
Hoje em dia, a viela está em constante mudança. Em cada nova visita é possível observar a evolução do Beco ao longo do tempo.
Quem passa pela rua Paulo Gontijo de Carvalho descobre os desenhos de Crânio, um grafiteiro brasileiro renomado. As suas obras podem ser vistas no Beco do Lira, um beco mais estreito do que o Beco do Batman.
Eduardo Kobra: As intervenções de Eduardo Kobra se espalham por toda a cidade. Foram as obras dele que mais me impressionaram dentre todos os artistas, pelo seu realismo e sua expressão de movimentos.
A arte de Kobra se dedica a pedir proteção aos animais e a defender seus direitos, como esta a seguir que fica na rua Belmiro Braga, mais conhecida como Beco do Aprendiz.
Em Pinheiros, a gente se depara com um painel gigante de Kobra que enfeita as paredes laterais da loja da Fnac na rua Pedroso de Moraes. Ali, o artista paulistano usa sua marca registrada em um grafite tão realista que até parece uma fotografia.
O grafite mais imperdível de Kobra é incontestavelmente a sua homenagem gigantesca a Oscar Niemeyer. Quem passa pela Avenida Paulista direção sul se depara com uma ilustração do arquiteto, de 52 metros de altura e 16 metros de largura. Kobra e outros quatro artistas da sua equipe passaram um ano colorindo o edifício Ragi, na Praça Oswaldo Cruz, 124, em frente ao shopping Pátio Paulista.
Kobra a presenteou a São Paulo pelo aniversário da cidade, e também como forma de marcar a data de um ano do falecimento de Niemeyer. De toda obra de Kobra, acredito que este painel seja o melhor exemplo de seu incrível estilo realista.
Avenida 23 de Maio: Por último, mas não menos importante, incluo as criações que podem ser vistas ao longo do viaduto Jaceguai e na saída para a avenida 23 de Maio. Primeiro, nos arcos da pequena rua que liga o viaduto com a avenida 23 de Maio.
Para mim, o grafite mais importante é uma obra de Mauro Neri da Silva, mais conhecido como Moura. Este é apenas um dos inúmeros murais de Mauro que se espalham por toda a cidade.
Quem circula pela cidade encontra esses escritos em muros, escadarias e bancos de praças. As obras chamam a atenção para problemas da cidade que precisam ser percebidos e solucionados, como a pobreza extrema e a questão dos desabrigados, entre outros.
Ao se chegar à saída para a avenida 23 de Maio, se vê a enorme intervenção feita por Nina Pandolfo, Nunca e Osgemeos.
Fotos e Texto: Charles Humpreys (Blog "Para Inglês Ver" / BBC Brasil)
Com informações: BBC Brasil
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