Com pânico de voar, mas louco por viagens, brasileiro cria site sobre medo de avião
Apaixonado por viagens e aviação, mas com pânico de voar, o jornalista Salvatore Carrozzo resolveu encarar essa grande contradição de sua vida e começar a escrever sobre ela. Surgiu assim o Rivotravel, um site que mistura textos sobre medo de avião, turismo e aviação.
Baiano, filho de um italiano com uma suíça, Salvatore viaja muito desde criança. Também adora o universo da aviação “desde que se entende por gente”: teve coleção de revistas temáticas e miniaturas de aviões – alguns ele guarda até hoje –, ia com frequência ao aeroporto para ver as decolagens e lia muito (ainda lê) sobre o assunto.
“Toda vez que passava um avião perto de casa, eu largava tudo o que estava fazendo para ficar olhando e batendo continência, como forma de respeito, admiração”, lembra.
Na infância e adolescência, sonhava em ser piloto de avião comercial. Aos 21 anos, na universidade, pensou em desistir do curso para seguir esse caminho. “Graças a Deus não fui em frente. Um piloto com pânico de voar seria complicado”, ri.
Durante muito tempo, não teve nenhum medo de voar. O pânico começou numa viagem específica, em 2010, quando foi com os pais para a Itália e pegaram um voo interno em um avião antigo, que chacoalhou muito durante o pouso.
Em seguida, a família voltou para o Brasil e Salvatore ficou na Europa. Foi a última vez que viu o pai vivo: ele sofria de um câncer de pulmão e morreu depois dessa viagem. “Acho que naquele momento meu cérebro passou a atrelar aviação e viagens com morte”, avalia.
Suor, palpitações e ansiedade: A partir daí, Salvatore nunca mais viajou tranquilo. Ele conta que a ansiedade começa bem antes da viagem. Na véspera, já não consegue dormir. “Meu coração parece que vai sair pela boca. Vou para o aeroporto como um condenado vai para o calvário, suando frio, a mão empapada de suor. No check-in bate vontade de desistir, dizer para a moça: ‘Não vai dar para ir, coloca outra pessoa no meu lugar”, descreve.
Em uma ocasião, pediu para ser liberado de uma viagem de trabalho por causa do excesso de ansiedade com a perspectiva de pegar o voo. “Esse medo é muito real, muito desgastante e tem um impacto enorme na vida pessoas. Imagina você tirar férias, marcar uma viagem bacana com o parceiro, a parceira, os amigos, e travar e desistir. É horrível.”
Salvatore procurou um psiquiatra e hoje toma remédios prescritos pelo médico para conseguir viajar. Também faz terapia. “O medo continua, mas quando você trata, a viagem se torna possível”, diz.
Ele também leva bastante material para ajudar a passar o tempo durante o voo, como palavras cruzadas, livros e revistas.
Outra estratégia que pode contribuir é estudar sobre o assunto: entender como opera um avião, os índices de acidentes e outras questões técnicas. “É um meio de transporte muito seguro, com pouquíssimos acidentes, se você considerar os milhões de pessoas que voam. É mais fácil um carro desgovernado te atingir na calçada do que o avião onde você está cair. Mesmo o medo sendo irracional, ler esse tipo de coisa dá uma aliviada”, observa.
Escrever para o site, afirma, também ajuda a trabalhar o medo. Os textos são divididos em três categorias: Rivo, sobre medo de voar, com posts pessoais bem-humorados ou com títulos como “Há lugares no avião que dão mais chances de sobreviver?”; Travel, com dicas de turismo e destinos; e Aviação, com resenhas de companhias aéreas, aeronaves e aeroportos.
Desde que criou o Rivotravel, Salvatore tem recebido mensagens de internautas contando suas próprias experiências com o pânico de voar. “É bom ver que não é algo somente meu, que várias pessoas se sentem assim", diz. "Virou quase um confessionário.”
Foto: Reprodução (Rivotravel.com / G1)
Fonte: G1
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